terça-feira, agosto 04, 2009

pietra rocks

Um domingo desses aí fui visitar minha sobrinha - que é certamente a criança mais incrível. Ela tem 3 anos, e estávamos dançando na sala ao som de uma gravação precária da minha banda. No meio da brincadeira e sem nenhuma agressividade, empurrei o rostinho dela com a mão. Nem chegou a ser um tapa. Aquele segundo durou muito. Então ela veio, me abraçou e me deu um beijo nos lábios.

Aprendi uma lição.

segunda-feira, março 23, 2009

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Involuntary

Naquele momento ele estava parado com os braços cruzados sobre o parapeito da janela. Os cotovelos ultrapassavam sua linha dos ombros em altura, mas seu queixo estava confortavelmente apoiado sobre as costas da mão direita, que estava sobre a esquerda. Precisava manter o rosto voltado para cima para ver o LáFora. Tinha cinco anos e assistia andorinhas coreografarem qualquer coisa. Estava no oitavo andar, o céu tinha algumas nuvens e, mais tarde, ele esperava ganhar seu microscópio. Ele tinha cinco anos e pediu um microscópio. Era obviamente um poeta, mas os despreparados o apelidaram de Cientista. Acho que ele não se incomodou com isso. Não consigo descrever sua roupa - e ele certamente não se ofenderia se soubesse que esqueci de alguns detalhes importantes como esse.

O microscópio chegou e ele fez questão de examinar a própria saliva - entre outras coisas. As outras crianças brincavam com suas massinhas ou carrinhos. Ah, sim: era Natal e neste dia memorável ele foi obrigado a emprestar seu presente revolucionário a adultos e primos, sentiu ódio por isso e chorou em silêncio.

Na manhã seguinte, com a casa mais calma, levou seu microscópio até a mesa. Após mirar cuidadosamente, cuspiu lindamente (como só uma criança de cinco anos ou menos pode fazer) numa lâmina de exame. Não conseguiu acertar o centro, mesmo assim colocou sob a lente - a mais potente aumentava 900 vezes o tamanho - e tentou acender a lâmpada. Não funcionou. Haviam acabado com a pilha.

Agora está na sacada de outro prédio. Está chovendo e ele tem 25 anos. Não tem mais o microscópio, mas as olheiras denunciam que a péssima educação não conseguiu destruir o interesse com o invisível. Não conseguiu destruir quase nada porque ele sabe que escondeu as coisas, tanto e tão bem que ainda procura por algumas. Está olhando. Não há andorinhas. Anoitece e as luzes amarelas dos prédios misturam-se a um belo azul-sei-lá-o-quê-escuro ao fundo, enquanto as gotas de chuva passam rapidamente diante dos seus olhos grandes, rasgados e castanhos, e assim desfocam levemente a imagem. Está sozinho e não vê mal algum nisso. A caixa de som toca M.Ward, mas ele não escuta. Não porque não goste, acha mesmo o M.Ward um grande artista. Mas agora, enquanto a chuva desfoca tudo, sua cabeça está cheia de coisas que ele não disse, e são apenas elas que ele consegue ouvir nesse instante.

Enquanto isso na sala, M.Ward canta para ninguém:

" And when the phone has lost it's bell
And the doorbell has lost it's sound
You're only hearing your heart pound
It's involuntary"

sábado, setembro 20, 2008

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"A característica mais sofrível da péssima literatura de auto-ajuda é haver quem não entenda nada além disso." Padre Quevedo.

Você deveria ter me dado a Gibson. Não faz idéia de quanto vai se arrepender por não ter feito isso. Mas não sinta culpa, por favor. Eu consegui uma outra guitarra, não tão famosa, não tão cara, com problemas no terra e, consequentemente, chiados - mas muito interessante mesmo assim. Você precisa ver. Não, não precisa, mas se acompanha este blog há mais de um mês, provavelmente vai querer ouvir as canções que estou finalmente dando como terminadas. Elas ainda vão demorar um pouco para entrar em algum lugar que vocês por acaso pudessem ter acesso. Vou fazer um trabalho bem feito com a gravação - são o que eu quero que sejam e isso me faz querer cuidar bem delas. E me desculpo antes que me esqueça por mesmo assim me meter aqui a falar de coisas que vocês não conhecem. Desculpa aí.

Nada disso me incomoda, nem me orgulha - só acho que devo comentar o fato de que tenho me sentido maravilhosamente tranquilo. Preciso reconhecer que estou fazendo - com toda a habilidade e estilo de um rapaz com 25 anos, brasileiro, cliente Claro, sem residêcia fixa, com sua educação inicial fundamentada nas mais habitáveis (mas não sempre) escolas públicas da Z. Leste de São Paulo, violência familiar, e um livro sobre raças de cães da minha avó - alô, Dona Dhelma! Mas como dizia, preciso reconhecer, como se tivesse lido há muitos anos um conselho de Seymour: finalmente faço algo em que vejo minhas estrelas brilharem (obviamente, gravarei todos os erros temporariamente invisíveis dos quais me arrependerei no futuro, mas seria assim de qualquer jeito). O que me deixa mais feliz - a ponto de vir aqui escrever algo como registro, ou mesmo encontrar um antigo amigo hoje, e ver o que ele é e nem sabe, com seus quilos a mais dentro da cabeça, com seu recém comprado Golf que é mó status, é outra história quando você vai pegar as mina, mó dahora, cara. (Mostrei minhas músicas a este pobre sujeito e sua cara de quem não havia compreendido nada enquanto dizia Legal, legal foi recebida com a mesma serenidade com que receberia dele um elogio maior, algo como: achei um lixo, mano). Mas conselhos de Seymour, eu dizia. O que me deixa mais feliz ao lembrar de seu conselho, é saber que quando o recebi, já havia encontrado as minhas estrelas brilhantes. O que me deixa feliz, a ponto mesmo de chorar um pouquinho, numa emoção contida mas genuína demais para ser suportada, é ver que elas, as estrelas bichas e brilhantes, sobreviveram muito bem aos péssimos serviços de manutenção que desempenhei em minha ainda presente juventude. Abro agora a janela e grito: SALINGER, bate na minha bunda, me chama de Matilde! e com isso alimento os boatos da vizinhança sobre minha sexualidade. Já aqui, termino esse parágrafo dizendo que aos dez anos de idade, eu queria ser goleiro, mas para desmoralizar qualquer pensamento impuro sobre sexualidade relacionado a este lindo fato, deixo claro que o que me encantava na profissão era ver um sujeito jogando isolado em um campo, com movimentos heróicos sempre prontos a evitar o grito ensurdecedor do clímax dos que torciam por seus oponentes. E isto, para alongar um pouquinho mais este parágrafo constrangedor, credito às mais habitáveis escolas públicas.

Finalmente posso sentar ao seu lado, meu amiguinho imaginário que visita esse espaço numa obsessão doente por algum texto ruim. Posso mesmo encará-lo com um sorriso e dizer que seu sapato é muito bonito, mesmo assim com os cadarços desamarrados - mas não sem lembrar que grande parte da beleza dele é consequência do comprimento precisamente inadequado da barra de suas calças.

sexta-feira, setembro 05, 2008

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"Não consigo saber exatamente qual o seu estado real, mas consigo imaginar algumas situações pelas quais passa e posso dizer: é importante que passe por elas. Você certamente vê coisas com as quais não concorda nem um pouco, mas pense: não é assim no mundo inteiro? Se observar um pouco melhor algo que não concorda, vai pensar certo e entender porque isso acontece. Ficará tão claro que não faz parte de todo aquele processo, que é algo completamente diferente de você, e não vai fazer o menor sentido misturar o seu tempo de algum modo a essas coisas. Elas sempre aconteceram, vão continuar acontecendo, e a menos que deixemos o papel de vítimas, vão continuar nos agredindo - vamos sofrer. Sofrer é necessário, eu acredito, mas não é mais vivo sofrer pelo que amamos?

Tente lembrar do seu momento lúcido mais feliz. Lembre de como estava a sua cabeça nesse momento, de como estava o que eles chamam de alma. O que você pensava, o que imaginava? Tente pensar nessas coisas, imaginar, novamente, essas coisas. Vai ver que estava feliz porque estava mais perto do que é parte de você. Talvez assim seja possível encontrar-se.

Mas são palavras óbvias. A vida é impossível."

trecho de: O Sábio da Vila Formosa. Sucessor indiscutível do lendário Quem mexeu no meu queijo.

sexta-feira, março 14, 2008

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Daí tem uma hora que você pára e pensa em tudo que aconteceu com você em pouco tempo, em tudo que você viveu, e viveu mesmo, na mais exata amplitude dessa palavrinha mágica, e você ainda lê alguns blogues e ri quando vê um senhor de alguns quase quarenta anos falar em espírito superior, mesmo morando no Brasil, com os pais ou não tendo enfrentado nada além de algumas centenas de livros e de seus complexos naturais de adolescente inteligente e promissor dotado de alguma sagacidade mas nenhuma sensualidade, e você ainda vê essas coisas de vez em quando, eu dizia, e ri, e pensa em como demorou pra terminar algo que já havia acabado há muito tempo, em como aprendeu da maneira mais equivocada (se é que existe algo mais equivocado), mas como eu dizia, uma maneira equivocada, porém inesquecível. E agradece a vida impossível que sempre teve, mas especialmente o momento em que ela resolveu fazer algo por você. Algo que você mesmo deveria ter feito mas por alguma razão não fez, talvez por absoluta covardia, talvez por algum tipo de covardia não absoluta. Daí você ri do jogo imbecil de palavras que fez ao digitar a frase anterior. Você faz tudo isso. Você consegue lembrar de tudo isso durante um intervalo de alguns minutos, um intervalo preenchido de Jeff Buckley cantando Hallelujah no ITunes. Mas você ainda pensava na vida, você queria dizer. Em como ela está sempre certa, e agradece, com toda gratidão que consegue ter no alto dos seus cabelos brancos e vinte e quatro anos de vida. Você toma um litro de vinho barato, sozinho, e consegue rir, e Jeff Buckley ali, vivo do modo que você pensa que todas as coisas devem ou deveriam viver. Você quase nada naquele mesmo Rio Mississipi, mas está em uma casa que já não agrada. Mas você está feliz - bêbado? um pouco, mas sabe que essa coisa toda não é de álcool. Dá pra saber. Você está mesmo agradecido por algo que não consegue dar um nome, e pensando em quem agradecer (porque é evidente a necessidade de agradecimento). Deus? Olá, é isso? E tem toda a coisa do seu blog que ainda te envergonha de um modo divertido. Você consegue rir da sua própria falta de habilidade e isso lhe parece algo simples. As coisas lhe parecem mais simples. Você tem o que precisa para seguir, para seguir a qualquer parte. Você quer muito agradecer, mas percebe que tudo isso veio de alguma parte que está em você. E tudo vira meio uma coisa auto-ajuda, ou autoajuda, mas não importa. Aleluia, misifí. Essa coisa de blog é um desperdício, você concorda. E provavelmente você não volte mais, e pensa numa despedida fantasmagórica: Adeus, adeus, adeus, recordate-te de mim numa tradução de Péricles Eugênio. Ou num simples até logo, já que você sabe que tem tudo isso, mas tem também o vinho. De qualquer modo, não perde a vontade de agradecer, ao mesmo tempo em que percebe que fazer isso de qualquer modo diferente do silêncio, do sorriso e de uma ou outra lágrima parece algo terrível. E sente que é melhor parar antes de citar algum verso, antes de cometer algo que lhe faça sentir mais vergonha do que habitualmente está acostumado, do que habitualmente lhe provoca um riso estacato. Até mais, gente.

sexta-feira, março 07, 2008

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Quero pedir desculpas por ter usado a palavra :outrora: no post abaixo.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

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Estive por aqui, repensando meu modo de pensar. Sinto-me agradavelmente animado com alguns entendimentos que lamentei muito procrastinar estupidamente. Durante muito, como tenho alguma inteligência, equacionei certo - pensando errado. Eis aí todo o meu atraso no único processo que realmente importa. Não tenho idéia de como funciona com vocês, mas como possuo nostalgia de meu comportamento de outrora, acredito já ter vivido corretamente. Errei em algum momento, mas encontrei a volta. Agora vou continuar a refletir tudo que precisa ser assimilado e volto em breve, com melhores textos, espero. Na verdade espero, principalmente,: mais clareza (conforme corrigiu o anônimo nos comentários).

A exemplo desse bom blog, listo aqui coisas que podem ajudar. Um pouco de William Blake não mata ninguém.

Tente também essa. Ignore o problema no meio da exibição.

Não é pra parecer contraditório. Lamento se pareço chato ou ingênuo, não é a intenção.

*saio num moonwalk triunfal.

sábado, janeiro 05, 2008

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Parem de me zoar. Fui terrivelmente molestado. Tenho traumas de infância, ok?

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quarta-feira, dezembro 26, 2007

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Sinceramente não sei se sou e se sou como sou imaginado por vocês que vez ou outra aparecem aqui. Também não importa nada. Mas nada aqui importa muito. Eu só quero dizer uma coisa, mas olha só, presta um pouquinho de atenção que eu já vou chegar lá.

Eu sou um tipo bem característico de pessoa. Um tipo que nasceu pobre, se fudeu bastante numa nice, saiu de onde precisava sair rápido, e agora não tem problema financeiro de grande proporção, nem se mata de trabalhar tendo a resolver apenas assuntos ainda relativos ao seu passado obsoleto e pouco indicável. Tenho completa vocação para as artes, o que não significa em absoluto que tenho talento. Me meto a fazer qualquer coisa que dá vontade - o que é tanto divertido e interessante quanto estúpido. A sorte é que possuo alguma inteligência e senso cívico, mas não muito, então, pelo menos não vou preso ou coisa do tipo - porque todo mundo sabe que só é legal ser preso toda semana por roubar carros na Alemanha, onde você pode alegar que sempre os devolve.

Sou o tipo que tem roupas legais e caras, mas não tem guarda-roupas. Ando um pouco de chinelos e um pouco descalço pela casa então às vezes encontro chinelos no quintal ou parados em frente a geladeira. Tenho uma guitarra modesta mas gostosinha que toco todos os dias há algum tempo. Tenho feito músicas, como se ainda tivesse idade pra isso, como se pudesse fazer esse tipo de coisa. Não sou um cara popular, mas nunca tive problemas com isso ou com garotas. Não faço idéia do que as pessoas pensam de mim quando me vêem. A casa não costuma ficar muito limpa, mas hoje fui lavar louça e é aqui que chego ao ponto que importa e eu queria compartilhar antes de escrever assim muito porcamente, numa crise egobibazística, tanto sobre mim. É só que me vi lavando os vidros da louça com o lado verde da esponja famosa, a esponja Scotch. Parei um segundo, vi o lado amarelo e pensei que o mínimo que podia esperar de mim mesmo era ter usado aquele lado nos vidros.

O lado amarelo. Tá na hora de comprar um guarda-roupas.

Mas isso é tão chato, gente.

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segunda-feira, dezembro 24, 2007

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Bom natal pra todos.

Surpreendentemente não tenho nenhum post bicha de fim de ano, com balanços e resoluções. Sinal de melhora.

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