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Involuntary
Naquele momento ele estava parado com os braços cruzados sobre o parapeito da janela. Os cotovelos ultrapassavam sua linha dos ombros em altura, mas seu queixo estava confortavelmente apoiado sobre as costas da mão direita, que estava sobre a esquerda. Precisava manter o rosto voltado para cima para ver o LáFora. Tinha cinco anos e assistia andorinhas coreografarem qualquer coisa. Estava no oitavo andar, o céu tinha algumas nuvens e, mais tarde, ele esperava ganhar seu microscópio. Ele tinha cinco anos e pediu um microscópio. Era obviamente um poeta, mas os despreparados o apelidaram de Cientista. Acho que ele não se incomodou com isso. Não consigo descrever sua roupa - e ele certamente não se ofenderia se soubesse que esqueci de alguns detalhes importantes como esse.
O microscópio chegou e ele fez questão de examinar a própria saliva - entre outras coisas. As outras crianças brincavam com suas massinhas ou carrinhos. Ah, sim: era Natal e neste dia memorável ele foi obrigado a emprestar seu presente revolucionário a adultos e primos, sentiu ódio por isso e chorou em silêncio.
Na manhã seguinte, com a casa mais calma, levou seu microscópio até a mesa. Após mirar cuidadosamente, cuspiu lindamente (como só uma criança de cinco anos ou menos pode fazer) numa lâmina de exame. Não conseguiu acertar o centro, mesmo assim colocou sob a lente - a mais potente aumentava 900 vezes o tamanho - e tentou acender a lâmpada. Não funcionou. Haviam acabado com a pilha.
Agora está na sacada de outro prédio. Está chovendo e ele tem 25 anos. Não tem mais o microscópio, mas as olheiras denunciam que a péssima educação não conseguiu destruir o interesse com o invisível. Não conseguiu destruir quase nada porque ele sabe que escondeu as coisas, tanto e tão bem que ainda procura por algumas. Está olhando. Não há andorinhas. Anoitece e as luzes amarelas dos prédios misturam-se a um belo azul-sei-lá-o-quê-escuro ao fundo, enquanto as gotas de chuva passam rapidamente diante dos seus olhos grandes, rasgados e castanhos, e assim desfocam levemente a imagem. Está sozinho e não vê mal algum nisso. A caixa de som toca M.Ward, mas ele não escuta. Não porque não goste, acha mesmo o M.Ward um grande artista. Mas agora, enquanto a chuva desfoca tudo, sua cabeça está cheia de coisas que ele não disse, e são apenas elas que ele consegue ouvir nesse instante.
Enquanto isso na sala, M.Ward canta para ninguém:
" And when the phone has lost it's bell
And the doorbell has lost it's sound
You're only hearing your heart pound
It's involuntary"
Naquele momento ele estava parado com os braços cruzados sobre o parapeito da janela. Os cotovelos ultrapassavam sua linha dos ombros em altura, mas seu queixo estava confortavelmente apoiado sobre as costas da mão direita, que estava sobre a esquerda. Precisava manter o rosto voltado para cima para ver o LáFora. Tinha cinco anos e assistia andorinhas coreografarem qualquer coisa. Estava no oitavo andar, o céu tinha algumas nuvens e, mais tarde, ele esperava ganhar seu microscópio. Ele tinha cinco anos e pediu um microscópio. Era obviamente um poeta, mas os despreparados o apelidaram de Cientista. Acho que ele não se incomodou com isso. Não consigo descrever sua roupa - e ele certamente não se ofenderia se soubesse que esqueci de alguns detalhes importantes como esse.
O microscópio chegou e ele fez questão de examinar a própria saliva - entre outras coisas. As outras crianças brincavam com suas massinhas ou carrinhos. Ah, sim: era Natal e neste dia memorável ele foi obrigado a emprestar seu presente revolucionário a adultos e primos, sentiu ódio por isso e chorou em silêncio.
Na manhã seguinte, com a casa mais calma, levou seu microscópio até a mesa. Após mirar cuidadosamente, cuspiu lindamente (como só uma criança de cinco anos ou menos pode fazer) numa lâmina de exame. Não conseguiu acertar o centro, mesmo assim colocou sob a lente - a mais potente aumentava 900 vezes o tamanho - e tentou acender a lâmpada. Não funcionou. Haviam acabado com a pilha.
Agora está na sacada de outro prédio. Está chovendo e ele tem 25 anos. Não tem mais o microscópio, mas as olheiras denunciam que a péssima educação não conseguiu destruir o interesse com o invisível. Não conseguiu destruir quase nada porque ele sabe que escondeu as coisas, tanto e tão bem que ainda procura por algumas. Está olhando. Não há andorinhas. Anoitece e as luzes amarelas dos prédios misturam-se a um belo azul-sei-lá-o-quê-escuro ao fundo, enquanto as gotas de chuva passam rapidamente diante dos seus olhos grandes, rasgados e castanhos, e assim desfocam levemente a imagem. Está sozinho e não vê mal algum nisso. A caixa de som toca M.Ward, mas ele não escuta. Não porque não goste, acha mesmo o M.Ward um grande artista. Mas agora, enquanto a chuva desfoca tudo, sua cabeça está cheia de coisas que ele não disse, e são apenas elas que ele consegue ouvir nesse instante.
Enquanto isso na sala, M.Ward canta para ninguém:
" And when the phone has lost it's bell
And the doorbell has lost it's sound
You're only hearing your heart pound
It's involuntary"
9 Comentários
" Era obviamente um poeta, mas os despreparados o apelidaram de Cientista." =)
E que fim levou o microscópio?
E o Ronaldo, hein?
Reanimaste o Lamas??
Que bom...!
agora entendi de onde veio o então tá...
;*
Tava com saudades dos teus romances biográficos. rs Não sei se são autobiográficos, mas tenho a certeza de que são biográficos.
beijo.
Oi! coloquei as fotos do incêndio no meu blog, rs. abc.
Desertão, tudo largado. Até o link da rm aí em cima não é mais meu.
Espero que o dono deste local ainda esteja vivo e esteja bem.
o dono deste local por acaso está vivo, e está bem. e você, como está?
Eba, a caixa de comentários está viva!
Bom saber, querido. Também estou bem. ;-)
Beijo
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